Nos últimos dias, foram muitas as manifestações de repúdio contra uma postagem, que já teria sido inclusive apagada, que atribuía a ocorrência de algumas doenças e transtornos ao velho conceito de "pecado". Dentre os casos, citou-se o Autismo, justamente em pleno mês de CONSCIENTIZAÇÃO sobre este transtorno.
Poderia também eu escrever uma nota "acompanhando os relatores" e manifestando meu repúdio a este tipo de interpretação para questões que só podemos enfrentar com compreensão e acima de tudo com um bom senso de humanidade, mas optei por fazer algo diferente: uma rápida pesquisa para mostrar que voltar aos tempos do Judaísmo para explicar o "inexplicável" (que hoje nem é tão inexplicável assim) não se justifica.
Não quero aqui entrar no mérito de instituições religiosas ou nas expressões de fé de cada um, mesmo porque tenho as minhas crenças e me sinto muito bem com elas, como com certeza cada pessoa se sente com as suas. O que pretendo é mostrar que basta um tempinho de estudo e investigação para evitar grandes problemas, tanto para si como para quem muitas vezes atingimos até sem má intenção...
Pessoal, por séculos a humanidade buscou explicações para doenças que desafiavam a compreensão. Em um mundo sem conhecimento sobre microrganismos, genética ou bioquímica, enfermidades como epilepsia, hanseníase, sífilis e transtornos mentais eram frequentemente interpretadas como castigos divinos, possessões demoníacas ou consequências de "falhas morais". A ciência, no entanto, desvendou os mecanismos por trás dessas condições, e, GRAÇAS A DEUS (é bom que se diga), substituiu mitos por fatos. Ao invés de estigmas, compaixão.
Quero elencar aqui algumas delas:
Epilepsia: Da "Doença Sagrada" à Neurociência
Na Grécia Antiga, a epilepsia era chamada de "doença sagrada", associada a influências sobrenaturais. Na Idade Média, interpretava-se como possessão demoníaca, levando a rituais de exorcismo. Hoje, a neurologia explica que crises epilépticas resultam de descargas elétricas anormais no cérebro, muitas vezes causadas por fatores como lesões, genética ou desequilíbrios químicos. Medicamentos anticonvulsivantes e técnicas cirúrgicas permitem controlar a condição, desmistificando-a como "punição".
Hanseníase: Do Estigma à descoberta da Bactéria
A hanseníase, conhecida como "lepra", era sinônimo de impureza moral em muitas culturas. Os doentes eram isolados em colônias, como aconteceu na Europa medieval e no Brasil até o século XX. A descoberta da Mycobacterium leprae por Gerhard Hansen em 1873 revelou que a doença é uma infecção bacteriana, tratável com antibióticos. A ciência não apenas curou corpos, mas também ajudou a dissolver séculos de exclusão social.
Sífilis: Do "Castigo dos Deuses" à Penicilina
No Renascimento, a sífilis era associada à promiscuidade e vista como um castigo por "pecados da carne". A medicina do século XIX, porém, identificou a bactéria Treponema pallidum como sua causa, e a penicilina, descoberta no século XX, tornou-a curável. O avanço mostrou que comportamentos humanos não "geram" doenças por si só, mas a exposição a patógenos sim – um entendimento que deslocou a culpa para a prevenção e o tratamento.
Transtornos Mentais: Da Possessão Demoníaca à Psicofarmacologia
Depressão, esquizofrenia e ansiedade já foram atribuídas a espíritos malignos ou fraqueza espiritual. A psiquiatria moderna, aliada à neurociência, revelou que desequilíbrios em neurotransmissores (como serotonina e dopamina), fatores genéticos e traumas são centrais nessas condições. Medicamentos e terapias baseadas em evidências substituíram práticas como exorcismos, oferecendo alívio real e reduzindo o preconceito.
Pandemias: Da Ira Divina à Epidemiologia
A Peste Negra (século XIV) foi interpretada como castigo de Deus pelo pecado humano. Hoje, sabe-se que foi causada pela bactéria Yersinia pestis, transmitida por pulgas de ratos. Da mesma forma, a AIDS, inicialmente estigmatizada como "peste gay", é compreendida como resultado do vírus HIV, combatido com antirretrovirais. A epidemiologia e a virologia explicam pandemias não como julgamentos, mas como fenômenos biológicos e sociais.
A revolução científica, da teoria microbiana, o sequenciamento genético, as vacinas, as descobertas impressionantes da neurociência, tudo isso transformou a forma como entendemos a saúde. Doenças antes ligadas ao pecado hoje são vistas como interações complexas entre genes, ambiente, patógenos e estilo de vida. Essa mudança não apenas salvou vidas, mas também humanizou a medicina: em vez de culpar os doentes, a ciência busca compreendê-los e tratá-los.
Embora crenças culturais ainda influenciem percepções sobre saúde, o método científico oferece uma narrativa mais INCLUSIVA E EFICAZ. Ao substituir o MEDO E A CULPA pelo CONHECIMENTO, a ciência não explica apenas doenças – ela liberta sociedades de séculos de ignorância e crueldade.