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PNEUMONIA LIDERA INTERNAÇÕES POR DOENÇAS RESPIRATÓRIAS EM MINAS GERAIS

A pneumonia, infecção que se instala nos pulmões, é responsável por mais da metade das internações de pacientes de doenças respiratórias em Minas Gerais. No Sul de Minas, o aumento é em torno de 45% em algumas das principais cidades. 

Ao todo, foram 15.463 hospitalizações entre janeiro e março deste ano. O número corresponde a 50,59% das 30.565 internações de pessoas com sintomas de enfermidades no aparelho respiratório no estado. O levantamento da Secretaria Estadual de Saúde aponta ainda uma crescente de 17% nos casos que resultaram em internação por causa da doença, passando de 5.001, em janeiro, para 5.882, em março.

“É uma doença que demanda uma atenção maior. É mais grave, por exemplo, que a gripe ou um resfriado”, alerta o médico infectologista Leandro Cury. Para o especialista, o acometimento de crianças e idosos, além da complexidade do tratamento, ajuda a justificar o alto número de internações por causa da enfermidade. “É uma doença que demanda acompanhamento médico e que, geralmente, não se resolve com medidas caseiras. Apesar de poder atingir qualquer pessoa, a pneumonia tende a ser mais grave em crianças e idosos, já que estes possuem menor imunidade”, explica.

Conforme o infectologista, o tratamento da pneumonia é, em maioria, feito com o uso de antibióticos, e a melhora costuma ocorrer em até quatro dias. A internação hospitalar torna-se necessária quando o paciente apresenta febre ou alterações clínicas, tais como febre frequente, comprometimento da função dos rins e da pressão arterial, além da dificuldade respiratória caracterizada pela baixa oxigenação do sangue. “Isso, quando em pacientes com menor imunidade, como crianças e idosos pode causar mais morbidade e até mortalidade nesses públicos”, orienta o médico Leandro Cury. 

A Secretaria Estadual de Saúde reforça que, apesar da incidência de casos de pneumonia e de outras doenças respiratórias, não houve sobrecarga no sistema de saúde em Minas Gerais. Em Belo Horizonte, por exemplo, entre os meses de janeiro e março, os leitos pediátricos clínicos apresentaram uma taxa de ocupação média de 66,7% e os leitos de UTI de 66,9%.

Segundo o secretário de saúde de Minas Gerais, Fábio Baccheretti, o Estado registra uma queda de casos de doenças respiratórias em crianças, que geralmente aumentam entre o fim de fevereiro e o início de março. “Passamos relativamente bem por este período porque aumentamos o número de Centros de Terapia Intensiva (CTIs) pediátricas. Foram mais de 70 leitos”, afirmou. 

Uma realidade diferente do Amapá, no norte do país. No dia 13 de maio, o estado nortista decretou situação de emergência em saúde por causa do aumento de 108% nas internações de crianças com sintomas gripais entre janeiro e maio. O Hospital da Criança e do Adolescente, na capital Macapá, precisou transformar salas administrativas em espaços para 32 novos leitos clínicos, além de abrir quatro vagas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pediátrica. 

Segundo Baccheretti, a preocupação atual é com o aumento de doenças respiratórias em adultos, especialmente em idosos. “Mas estamos preparados. Temos um número de leitos muito maior do que antes da pandemia. Um legado de mais de 600 leitos, que representa um aumento de 25%”, comentou o secretário. 

O secretário também lembrou que a vacina é a melhor forma de se evitar casos grave da doença. “Temos que investir na imunização como forma de prevenção como questão importante para termos casos mais leves, e não internação e óbitos”, completou.

Crianças e idosos mais expostos

As internações de crianças de até 14 anos e de idosos, com mais de 60 anos, representam 79% das 30.565 hospitalizações por doenças respiratórias, entre elas a pneumonia, em Minas Gerais. Foram 24.403 pacientes com essas faixas etárias no período entre janeiro e março deste ano.

“É uma população que nos últimos anos teve um relaxamento em relação a vacinação. A gente sabe que a imunização previne casos graves, complicações. Então quando não se tem esse cuidado, isso reflete na demanda de acompanhamento médico”, alerta a pneumologista Michelle Andrade, da Santa Casa de Belo Horizonte.

Para a especialista, os casos tendem a aumentar, principalmente durante os dias com inversão térmica. “Preocupa porque as crianças não estão com o sistema imune completamente maduro, agora nos idosos o sistema já não funciona tão bem”, reforça. 

Dores e necessidade de acompanhamento médico

A profissional de comunicação Rayana Bartholo, de 35 anos, teve o diagnóstico de pneumonia no dia 30 de abril. Apesar da gravidade do quadro clínico, com fortes dores pelo corpo e vômito, ela não ficou internada. No entanto, manteve uma rotina de idas ao hospital por pelo menos 15 dias. “Foi uma saga. Eu tinha que ir ao médico de dois em dois dias”, relembra.

Antes de receber o diagnóstico, Rayana foi à unidade de saúde em outras duas ocasiões. A ida para o hospital foi motivada pelas fortes dores que sentia por todo o corpo. “Na primeira vez, cheguei a receber o pré-diagnóstico de dengue, o que não se confirmou. Depois foi de infecção nos rins. Eu até tive essa infecção, mas quando fiz os exames eles não conseguiram constatar a pneumonia”, relata.

Somente na terceira vez em que esteve no hospital, após ser submetida a um exame de tomografia, a doença foi diagnosticada. “O quadro já tinha se agravado, era uma dor insuportável e eu não tinha mais voz. Era uma dor profunda e localizada nas costas, bem debaixo da região dos pulmões. Era como se tivesse enfiado uma faca”, detalha. Raynana, que é responsável por uma menina de quatros anos e pelos cuidados com a avó, de 93, teve a rotina totalmente alterada por causa da doença. “Precisei da ajuda de muitas pessoas, não conseguia sair da cama. Tive ainda episódios de vômito, tosse durante a noite. Não conseguia dormir”, lembra.

O tratamento foi iniciado com o uso de antibióticos. No entanto, o medicamento precisou ser alterado após a primeira semana. “Não teve o efeito esperado, e o médico recomendou outro antibiótico. Foi um período em que meu corpo estava bastante sensível. Eu ainda estou em tratamento, tenho feito acompanhamento com pneumologista e agora preciso de novos exames para ver como isso evoluiu”, completa.

Prevenção

Diferente do vírus da gripe, que é altamente infectante, os agentes infecciosos causadores da pneumonia, como bactérias, vírus, fungos e reações alérgicas, não costumam ser transmitidos facilmente. No entanto, a higienização do sistema respiratório é um importante cuidado para evitar a patologia. “A limpeza das cavidades nasais é fundamental, além da hidratação. Um corpo hidratado é um corpo que lubrifica as vias aéreas”, orienta o médico infectologista Leandro Cury.

Para a pneumologista Michelle Andreata, da Santa Casa de Belo Horizonte, cuidados com higiene adotados durante a pandemia da Covid-19 podem colaborar para a prevenção da pneumonia. “Evitar tocar as mãos no rosto é essencial. Além de evitar aglomeração, usar máscaras após qualquer sintoma gripal”, orienta. Ainda segundo a pneumologista, essa orientação é ainda mais importante para pessoas alérgicas. “É importante evitar a poeira, deixando de lado pelúcias, carpetes, trocar com maior frequência as roupas de cama. Se possível, colocar uma toalha úmida no quarto ao dormir”, sugere. 

Outra recomendação é em relação ao tratamento dessas doenças. Conforme Leandro Cury resfriados mal cuidados, mudanças bruscas de temperatura, ar-condicionado, consumo excessivo de álcool e o fumo são fatores de risco e podem favorecer o diagnóstico de pneumonia. “Uma gripe ou uma sinusite quando não é bem cuidada pode gerar uma pneumonia. Mas à medida que a imunidade cai, as doenças bacterianas podem tomar conta desse organismo mais vulnerável. Não é uma transformação direta, mas a falta de um tratamento adequado pode favorecer”, explica.

Atenção aos sintomas

Os sintomas mais comuns da pneumonia são: febre alta, tosse, dor no tórax, alteração da pressão arterial, confusão mental, mal-estar generalizado e a falta de ar. O paciente também pode apresentar secreção de cor amarelada ou esverdeada, além de fraqueza e toxemia - doença provocada pelas toxinas no sangue e que, em suas formas graves, pode irritar o sistema nervoso central e provocar convulsões.

“A pessoa deve evitar a automedicação. Ao perceber algum desses sintomas, independente da intensidade, é importante procurar atendimento médico”, orienta o infectologista Leandro Cury. Para o especialista, além da orientação do profissional de saúde, a vacina contra a pneumonia, indicada para crianças a partir de 2 anos e disponível de forma gratuita no Sistema Único de Saúde (SUS), é um importante aliado no combate à doença. “Elas são fundamentais e, hoje, a principal forma de conter a pneumonia”, completa Cury. 

Pneumonia e doenças respiratórias

Além da pneumonia, responsável por 15.463 internações, outras doenças respiratórias também levaram pacientes à hospitalização em Minas Gerais. Conforme a Secretaria Estadual de Saúde, foram 2.988 internações por bronquite aguda, 1.221 por doenças crônicas das amígdalas e das adenóides e 4.395 por outras enfermidades que atingem o aparelho respiratório. Os números alertam as autoridades de saúde, que apontam para um possível aumento dos casos com a chegada do inverno, estação caracterizada por temperaturas mais baixas e clima seco.

"É importante a gente lembrar que essas doenças podem acontecer durante todo o ano. Só que neste período, por causa das condições climáticas, a transmissão tende a ser mais comum”, destaca o médico infectologista Leandro Cury. Segundo o especialista, com a chegada do inverno, a população precisa adotar cuidados, principalmente em relação ao vírus da influenza. “Um vírus que pode provocar doenças sérias. A gripe é uma doença sistêmica, e que pode levar ao óbito. Por isso é importante se vacinar, até porque o imunizante engloba três tipos desse vírus que estão em voga”, reforça.

Em Minas Gerais, a cobertura vacinal contra a influenza está em 36,51%, o que coloca o estado como o 12º do país, em relação a proporção da população-alvo vacinada. O Maranhão, na região Norte, é o que possui a maior cobertura vacinal, com 69,57%. A meta definida pelo Ministério da Saúde é de 90%.

Internações por doenças respiratórias em Minas Gerais

Pneumonia

Janeiro - 5.001

Fevereiro - 4.580

Março - 5.882

Total - 15.463


Outras doenças do aparelho respiratório

Janeiro - 1.468

Fevereiro -1.372

Março - 1.555

Total - 4.395


Bronquite enfisema e outras doenças pulmonares 

Janeiro - 1.008

Fevereiro - 931

Março - 1.049

Total - 2.988


Asma

Janeiro - 491

Fevereiro - 988

Março - 1.022

Total - 2.501


Bronquite aguda e bronquiolite aguda

Janeiro - 463

Fevereiro - 546

Março - 1.095

Total - 2.104


Doenças crônicas das amígdalas e das adenóides

Janeiro - 368

Fevereiro - 407

Março - 446

Total - 1.221


Outras doenças do nariz e dos seios paranasais

Janeiro - 130

Fevereiro - 177

Março - 168

Total - 475


Influenza [gripe]

Janeiro - 177

Fevereiro - 129

Março - 163

Total - 469


Outras infecções agudas das vias aéreas superior

Janeiro - 96

Fevereiro - 89

Março - 123

Total - 308


Outras doenças do trato respiratório superior

Janeiro - 77

Fevereiro - 81

Março - 96

Total - 254


Faringite aguda e amigdalite aguda

Janeiro - 78

Fevereiro - 47

Março - 60

Total - 185


Laringite e traqueíte agudas

Janeiro - 24

Fevereiro - 39

Março - 57

Total - 120


Sinusite crônica

Janeiro - 12

Fevereiro - 9

Março - 27

Total - 48


Bronquiectasia

Janeiro - 7

Fevereiro - 4

Março - 9

Total - 20


Pneumoconiose

Janeiro - 5

Fevereiro - 6

Março - 3

Total - 14

Fonte: Secretaria Estadual de Saúde Minas Gerais - Janeiro a Março de 2023

Internação por doenças respiratórias por faixa etária em Minas Gerais

Menor de 1 ano - 3.236

1 a 4 anos - 4.171

5 a 9 anos - 2.522

10 a 14 anos - 687

15 a 19 anos - 428

20 a 29 anos - 1.025

30 a 39 anos - 1.066

40 a 49 anos - 1.481

50 a 59 anos - 2.162

60 a 69 anos - 3.615

70 a 79 anos - 4.436

80 anos e mais -  5.736

Fonte: Secretaria Estadual de Saúde Minas Gerais - Janeiro a Março de 2023

Internações por doenças respiratórias por gênero em Minas Gerais

Masculino - 16.449

Feminino - 14.116

Fonte: Secretaria Estadual de Saúde Minas Gerais - Janeiro a Março de 2023

 Cobertura vacinal contra Influenza por Estados (Minas Gerais muito abaixo da meta)

Maranhão - 69,57%

Paraíba - 50,76%

Amazonas - 42,80%

Pernambuco - 42,57%

Alagoas - 39,90%

Ceará - 39,75%

Goiás - 38,41%

Sergipe - 38,41%

Rio Grande do Sul - 37,83%

Paraná - 37,69%

Minas Gerais - 36,51%

Santa Catarina - 34,43%

Amapá - 34,37%

Distrito Federal - 33,68%

Mato Grosso do Sul - 32,73%

São Paulo - 32,72%

Tocantins - 30,80%

Espírito Santo - 29,83%

Rio Grande do Norte - 29,01%

Mato Grosso - 28,88%

Bahia - 28,78%

Piauí - 27,10%

Pará - 26,60%

Rio de Janeiro - 22,12%

Rondônia - 20,25%

Fonte: Ministério da Saúde

Matéria originalmente publicada pelo Portal "O Tempo"

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